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tramando (em processo)

Monah Pereira e Cayo Vieira

Tramando é uma escrita-diálogo. Uma conversa de orientação analítica entre Monah Pereira e Cayo Vieira sobre a experiência de fazer redes. 

Falar sobre redes é falar sobre uma prática afetiva, que se constrói no tempo, com o tempo, nas relações. Uma rede passa por muitas mãos, vai aprendendo a ser rede na medida que vai se tramando e sendo tramada, fios sobre fios. Vai se preparando para acolher, embrulhar.  Um trabalho de repetição, mas antes, de ramificação. Possibilidades de outros enredos, outras tramas. 

 

Andar, andar, andar. Se permitir encontrar. O que vem pelo caminho, o que entremeia com o já vindo? É sobre calor. Aquele que emana de um corpo vivo, no caminhar esburacado, nas imagens acertadas, vibração, sabor. O tempo que não foi, que é. Tempo dos afetos. Uma vida incomum tornada uma vida em comum. Acolher a possibilidade de uma vida que atravessa, que encontra caminho lá onde antes não se encontrou. Excessos de restos, restos de uma vida. Disso, o que fica, o que passa? Reencontro é um encontro com a memória, por vias de escavação. Quando se perde o fio da meada, quando se soterra pelos excessos e se vai longe demais... Voltar adiante. Aprender a dançar com os fios. Que afetos ativa uma paisagem afetiva?

 

Ir tão longe para chegar mais perto. Perto de que, tão longe? Perto de mim; quando me movo, me distancio, penso. Penso no outro, me aproximo de mim, sinto meu corpo no espaço. Criar espaços, atravessar um país. [Re]encontro é um encontro com um pai. Qual pai? O desejo de ser pai, um ideal? Essa viagem pode ter sido uma estratégia do desejo. Um encontro com um pai que não conheci, uma pai que conheci através de histórias. Um pai que se perdeu. Eu-pai. Acho que fui [re]encontrar um eu-pai. Um pai que não existe parece longe o bastante, assim como uma aventura. Um filho que se propõe percorrer o caminho do pai anda longe o bastante, não se basta e nunca chega. O pai que não conheci está morto. Já nasceu morto. Não é possível fabricar redes sem produzir excessos. O excesso é humano. Produz sobras, restos e rastros. Penso que o rastro do movimento é permanente ou permanência, matéria. Rastros produzem corpos. Quantos corpos existem num rastro de movimento que começa em Curitiba e termina no Ceará? Percorri rastros deixados por meu pai, aquele que está vivo, o que conheci, que conheço e me reconheço. Recomeço. Rastros são pistas que processam [revelam] paisagens afetivas.

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