top of page

enredados
por Ed Viggiani

O projeto Redes, desenvolvido pelo fotógrafo Cayo Vieira, começou a ser realizado antes de seu nascimento. No início da década de 1980, o fotógrafo Sergio Vieira, pai do Cayo, documentou o processo artesanal de fabricação da rede de dormir na cidade de Jaguaruana, interior do Ceará. A generosidade sempre foi uma das características principais da família Vieira, as fotografias do Sergio expressam esse olhar; a rede de dormir foi incorporada à sua vida, assim como o amor pela arte. A predominância das cores primárias, a inesperada leveza e o grafismo sertanejo são os elementos visíveis das relações estabelecidas do Sergio com os artesãos e as pessoas da cidade. As imagens transpiram o jeito de ser do autor: sofisticadamente simples. A escolha do Sergio foi a aproximação do povo de Jaguaruana pelo afeto. A alegria da cor e o rigor estético em contraponto à aridez do sertão, dessa forma, Sergio Vieira produziu um raro documento artístico e histórico, quatro décadas depois resgatado pelo seu filho.

VIEIRA, Sérgio. 1982

Cayo Viera se dispôs a realizar sonhos gestados na infância e adolescência. Viu o pai, durante anos, revelar filmes e se dedicar às ampliações analógicas e nos retoques com pincéis finos. Ouviu histórias de viagens, alguns lugares distantes, um deles em especial, Jaguaruana. Cayo imaginou um sertão entre a descrição do pai e as inquietações das fantasias de menino. Aprendeu todo o processo do laboratório preto-e-branco, herdou a sensibilidade da família e seguiu o seu rumo. Este trabalho sobre Jaguaruana representa vários encontros. A fotografia é o meio pelo qual os autores, pai e filho, se abraçam definitivamente. No primeiro momento, o mergulho no material do pai, em seguida, a ida à cidade das redes. Entender a trajetória do pai é parte da raiz do projeto, outro pedaço importante é dar luz às suas questões mais íntimas. Cayo buscou, de um lado, dar materialidade às ideias do pai, de outro, criou um contraponto às cores do trabalho artesanal, fotografou o trabalho industrial da fabricação da rede com filme preto-e-branco e processou manualmente todo o material no laboratório.

A fotografia analógica tem um ritual a seguir, é o desafio de andar na mão contrária do consumo imediato. Há um hiato reflexivo entre o ato fotográfico e a possibilidade de se ver o resultado, tempo necessário para o amadurecimento das emoções vividas durante o trabalho de campo. A escolha pela imagem analógica aproximou tempos distantes, colocou no mesmo campo visual duas gerações de artistas entrelaçadas pelo olhar, pelas tramas da rede e da vida.

VIEIRA, Cayo. 2022

site-2_edited.png
bottom of page